Amplamente esquecida pela comunidade internacional, a guerra no Iêmen entre a coalizão liderada pela Arábia Saudita e o Ansar Allah, movimento político religioso xiita, continua devastando o país, o mais pobre do Oriente Médio.
Segundo uma estimativa conservadora feita nesta semana pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o conflito, iniciado em março de 2015, deixou até aqui mais de 10 mil mortos e quase 40 mil feridos. Cerca de 18 milhões de pessoas (80% da população) precisam de algum tipo de ajuda ou proteção humanitária.
Esses números se unem à cifra divulgada recentemente pela Unicef de 1,4 mil crianças assassinadas no Iêmen, grupo para o qual o confronto é especialmente perverso, como mostra este vídeo da Al-Jazeera.
The UN says at least 10,000 people have been killed in the war in Yemen since March 2015.
This is what life is like for kids there. pic.twitter.com/99vIl83Hp0
— AJ+ (@ajplus) 17 de janeiro de 2017
A tragédia humanitária no Iêmen é um exemplo bem acabado da hipocrisia do mundo ocidental. As raízes do conflito estão no Oriente Médio e remetem à disputa entre Irã e Arábia Saudita, mas Estados Unidos e Reino Unido apoiam militarmente a ofensiva contra os houthis, vistos como aliados de Teerã.
Por conta disso, ao contrário do que ocorre na Síria, há pouca repercussão a respeito dos abusos cometidos pela Arábia Saudita, como os bombardeios contra alvos não militares (casas, mercados, escolas e hospitais) e o uso de munições banidas, como as cluster bombs.
Temendo a tomada do Iêmen pelo Ansar Allah e a influência iraniana, a Arábia invadiu o país vizinho para restituir Abd Rabbuh Mansur Hadi ao cargo de presidente. Os xiitas conseguiram resistir e o conflitou chegou a um impasse militar, que tem como consequência o aumento do sofrimento da população civil. Atualmente, o enviado da ONU para o Iêmen, Ismail Ould Cheikh Ahmed, tenta reavivar as negociações de paz e instalar um governo de transição. Ao que tudo indica, a empreitada não terá sucesso tão cedo.