Problemas do Iraque não acabam com a derrota do Estado Islâmico

O Exército do Iraque, as unidades antiterror da polícia iraquiana e as milícias xiitas que combatem o Estado Islâmico estão próximas de obter uma vitória importante.

Como confirmou recentemente a coalizão liderada pelos EUA, que auxilia as forças iraquianas, mais da metade de Mosul, conquistada pelo ISIS em 2014, foi retomada, e agora o combate deve se concentrar na região oeste da cidade.

Ali, o conflito deve recrudescer, mas, ainda que leve algum tempo considerável, a permanência do ISIS no Iraque como uma entidade territorial parece ter os dias contados.

A derrocada do Estado Islâmico, entretanto, não significa que os problemas do Iraque estejam perto do fim. Por dois motivos, potencialmente interligados.

O primeiro é que militantes islamistas continuam a atacar cidades iraquianas, mesmo longe do front de Mosul. Segundo levantamento da Missão de Assistência da ONU para o Iraque (Unami), apenas em janeiro deste ano 403 civis iraquianos morreram e 924 ficaram feridos em atentados terroristas e conflitos armados.

Esses números indicam que o Estado Islâmico deverá continuar ativo, formatado como um grupo insurgente, mesmo após perder o território dominado.

Soma-se a isso o fato de que a derrota militar do ISIS abre espaço para a Al-Qaeda retornar ao Iraque. O grupo, hoje comandado por Ayman al-Zawahiri, certamente tentará explorar a clivagem xiitas x sunitas que está na raiz do Estado Islâmico e que ainda não foi resolvida.

A classe política iraquiana sofre de uma paralisia crônica, agravada pela incompetência e pela corrupção, e pode ter dificuldades para fazer avançar medidas que minimizem o sectarismo. Assim, a possibilidade de uma nova insurgência sunita contra o governo de Bagdá não pode ser descartada.

Um dos fatores de uma nova rebelião contra o governo pode vir a ser a crise humanitária pela qual passa o Iraque, que não chegará a termo rapidamente. Desde janeiro de 2014, o país computa 3 milhões de pessoas deslocadas internamente (163 mil apenas na ofensiva de Mosul, iniciada em outubro de 2016) e 245 mil refugiadas em países vizinhos. Com os recursos do país voltados para o combate ao ISIS, essa crise foi, em grande medida, deixada de lado.

Neste cenário, a ajuda externa ainda é e continuará sendo essencial. Chefe da Unami e representante das Nações Unidas para o Iraque, o diplomata eslovaco Jan Kubis foi bastante claro em sua apresentação no Conselho de Segurança da ONU, em 2 de fevereiro. “Espera-se que a crise humanitária continue por meses, se não anos”, disse.

“No período pós-ISIS, o Iraque vai precisar de substantivo e contínuo apoio da comunidade internacional”, afirmou Kubis. “Qualquer redução abrupta no engajamento ou na participação vai significar a repetição de erros do passado, erros que tiveram grandes consequências para a estabilidade e a segurança bem além das fronteiras do Iraque”.

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